domingo, 20 de janeiro de 2013

O regresso aos mercados!

Um ano e alguns meses depois de assumir o leme do país, o actual governo parece estar satisfeito por poder afirmar que Portugal irá, ainda este ano, regressar aos mercados. Ter condições para se financiar no mercado primário é, de facto, uma boa noticia, no sentido de que este é um regresso à normalidade. Por norma, os países financiam-se junto dos mercados financeiros, renovando a sua dívida à bolina das taxas de juro estabelecidas em função da oferta e da procura. O que isto significa, na prática, é que deixaremos de nos financiar junto da Troika, para o fazermos junto de investidores privados.

O problema é que foi precisamente a ineficiência dos mercados financeiros que nos meteu na situação em que estamos. Portugal parece a esposa que leva pancada em casa, e que depois de uma temporada em recuperação fica feliz por voltar para junto do marido agressor. 

Metáforas à parte, regressar aos mercados só vai complicar ainda mais a nossa situação, uma vez que a economia (aquela coisa que os investidores avaliam para decidir se nos hão-de emprestar dinheiro ou não) está completamente destroçada. 

É oficial: estamos a ser governados por doidos. A depressão, tudo indica, será maior do que o esperado; o desemprego prepara-se para ultrapassar os 20%; os trabalhadores qualificados não param de emigrar; a miséria alastra a ritmos alarmantes e já nem as exportações, o único indicador económico com tendência positiva, parece ter margem para aumentar. Ainda assim, a coligação faz uma grande festa por regressar aos mercados, como se isso significasse algo de bom.

O que à partida poderia ser positivo é, na realidade, mais um passo rumo ao abismo. Ficando à mercê da volatilidade dos mercados financeiros, as condições de financiamento serão sempre uma incógnita, já para não falar que ficaremos reféns dos investidores e interesses estrangeiros. Derrubar o Governo poderá significar subidas exorbitantes das taxas de juro, tal como chumbar um orçamento de Estado ou tomar qualquer outra medida que, à luz do nosso direito como país independente, é perfeitamente legitima.

Amigos Pedro e Victor, abram a pestana. Eu sei que vocês acreditam nessa história de que os mercados são justos e leais, mas pelo menos tenham a decência de admitir que a coisa não tem funcionado. É que se nem nós, altamente prejudicados pelos joguetes da alta financia nos queixamos, quem é que vai dar o primeiro passo para o fim desta ditadura que está a tomar conta da Europa e do Mundo?! Os portugueses estão fartos disto, e vocês não foram eleitos para dizer aquilo que acham, foram eleitos para representar Portugal. Por favor, já chega!