sábado, 17 de novembro de 2012

Uma mentira repetida mil vezes...

Goebbels, ministro da propaganda nazi, disse um dia que uma mentira repetida mil vezes torna-se realidade. Afirmar que os portugueses têm vivido acima das suas possibilidades é uma dessas falácias absurdas, que tem conquistado adeptos nos últimos tempos. Desde reputados banqueiros, até insuspeitáveis dirigentes de instituições de solidariedade social, vários são os indivíduos que aparecem na comunicação social a tentar transmitir a ideia de que a culpa do estado miserável em que nos encontrámos é do vulgar cidadão.

Quando dizem que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, penso sempre no caso particular da minha mãe, que faz parte dos 10% de população activa que recebe o salário mínimo nacional. Talvez não choque o facto de tanta gente viver com tão baixo rendimento, principalmente porque existe uma dificuldade crónica em perceber o que isso significa.

O SMN representa um vencimento bruto de 485€, aos quais são descontados 53,35€ para a segurança social (11%). Assumindo que o subsidio de alimentação é dado em espécie e que não existem custos associados ao desempenho das suas funções (ex: despesas de transporte), o trabalhador leva para casa 431,65€. 

Tendo em conta que o tempo de trabalho normal são 160 horas mensais, podemos concluir que um individuo que usufruiu do salário mínimo nacional recebe 2,70€ por hora. Isto significa que, para ir ao cinema, 10% dos portugueses têm que trabalhar cerca de 2 horas (mais do que a duração do filme). Beber uma cerveja custa 20 minutos de labuta e comer um Big-Mac equivale a 2 horas de trabalho...

São pequenos exemplos que demonstram a dificuldade que é viver com tão baixos rendimentos. Reparem que, neste momento, pelos menos 25% da população activa portuguesa vive com restrições orçamentais deste género, já que a taxa de desemprego se situa nos 16%.

Podemos continuar a acreditar que vivemos acima das nossas possibilidades, mas nesse caso estaremos a admitir que beber um café, ir ao cinema, praticar desporto ou ir ao médico são luxos que apenas devem estar ao alcance de alguns. É esse o futuro que queremos para Portugal?!