domingo, 7 de outubro de 2012

O circo de Outubro.

Foi um autêntico circo aquilo que no passado dia 5 de Outubro aconteceu nas cerimónias oficiais da implementação da República. A ausência do primeiro-ministro, a mudança do local das comemorações, a bandeira hasteada ao contrário (como é que é possível), a intervenção desesperada de alguém que já não sabe onde procurar ajuda... tudo isto veio reforçar a ideia de que o nosso país está perto de um apocalipse sócio-cultural, e que o abismo está tão próximo que andar para a frente deixou de ser opção.

Se não estivéssemos a falar do nosso próprio país, estes acontecimentos seriam até divertidos, mas como o que está em jogo é a nossa identidade, o nosso orgulho e a nossa nação, situações caricatas como as do passado dia 5 são simplesmente imperdoáveis. Se me contassem que a bandeira do meu país havia sido hasteada ao contrário, pelo representante máximo da nação, eu não acreditaria. A carga simbólica foi demasiado pesada, e o momento que atravessamos não se coaduna com equívocos desta ordem.

Em fuga pelo estrangeiro, o primeiro-ministro demonstrou, mais uma vez, a sua fraca cultura e o défice patriótico da sua governação. Estar presente nas comemorações do 5 de Outubro é uma obrigação do chefe de governo, porque a história de Portugal merece respeito, e quem não a honra não tem legitimidade para exigir nada dos portugueses.

A opção de privar o povo de participar nas comemorações, tomada pelo presidente da Câmara de Lisboa, foi outro grande disparate. Numa altura em que a classe política precisa urgentemente de se reaproximar das pessoas, ideias disparatadas como esta contribuem para a descredibilização dos políticos, e fazem com que o sentimento de desconfiança por parte do eleitorado aumente ainda mais.

Os republicanos jamais perdoarão o atentado desta coligação contra a memória da sua acção. A extinção do feriado relacionado com a revolução republicana irá, certamente, dar que falar nos próximos anos. Fica no ar a ideia de que a própria identidade nacional se virou contra o governo, e pelo menos a bandeira, teve a oportunidade de manifestar a sua indignação. Não é que eu acredite em bruxas, mas...