Que esta austeridade não nos vai levar a lado nenhum torna-se cada vez mais evidente. Mesmo os apaixonados por modelos económicos que centram nos números e nos gráficos a atenção que deveria ser direccionada para as pessoas, parecem estar cada vez mais convencidos de que algo falhou. Infelizmente, os resistentes, os que ainda esperneiam, por ignorância ou casmurrice, justificam o falhanço das suas politicas neoliberais com o argumento de que o povo não estava preparado para se sacrificar pelo país. Das duas uma, ou têm acesso a informação que mais ninguém tem, ou são completamente desprovidos de cérebro...
Dizer que a austeridade é a única solução para tirar Portugal do buraco em que se encontra é completamente falso. Não há Troika nem Governo que nos possa impor aquilo que não queremos, e neste momento, os portugueses, tal como os espanhóis e os gregos, não querem pagar uma dívida que não é só da sua responsabilidade.
Não fossem os joguetes financeiros, praticados nas grandes praças mundiais, e esta crise nem sequer tinha começado. Dizem que vivemos acima das nossas possibilidades?! Quem é que pressionou as pessoas para adquirirem crédito? Quem é que permitiu a criação de paraísos fiscais? Quem é que especulou em bolsa? Fomos nós?! Ou terão sido os agentes financeiros que agora nos exigem, de forma inflexível, o pagamento de uma crise motivada pela sua exuberante ganância e sede de poder?!
A nossa legitimidade para dizer que não queremos mais austeridade é total. Sem austeridade não conseguimos pagar a dívida?! A verdade é que com austeridade ela também não será paga, uma vez que irá originar cada vez mais recessão, o que, por sí só, faz aumentar o défice, e consequentemente a dívida pública. Ora, se o Estado continuar a adoptar a mesma receita, irá exigir mais austeridade, e a recessão será cada vez maior, tal como o défice e a dívida pública... Pois, e o desemprego! É a economia, estúpidos!
Existe então alguma alternativa para sairmos desta situação calamitosa? Sozinhos será difícil, mas com a ajuda da União Europeia a coisa pode acontecer. Primeiro é necessário cortar o mal pela raiz, e regular os mercados financeiros, de forma a que a sua importância não ultrapasse a do bem estar social. Depois, é urgente limitar os custos da dívida de países em situação económica complicada, é inconcebível que a sobrevivência de um Estado possa estar na mão de interesses financeiros. Por fim, mas não menos importante, é urgente adoptar políticas expansionistas nos países em recessão, mesmo que isso provoque (e provocará, com certeza) o aumento da dívida. Só depois de termos crescimento nesses países é que poderemos pensar no cumprimento dos nossos compromissos.
Internamente, Portugal só tem um caminho: denunciar o memorando de entendimento com o Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia (baseando-se no falhanço total das políticas propostas), exigir mais tempo para pagar a dívida e, porque não, renegociar o seu montante, já que, mesmo os juros cobrados pela Troika, são usurários.
Há quem diga que não temos poder negocial para exigir tais condições. Pensem numa União Europeia sem Portugal, Grécia, Espanha e Itália, e rapidamente chegarão a outra conclusão. Nunca o Euro sobreviveria sem estes quatro países (dificilmente sobreviverá sem um deles), e isso teria consequências negativas para todos. É preciso colocar as cartas que temos em cima da mesa, porque a cada dia que passa, elas valem cada vez menos, como tudo no nosso país!