segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Mas afinal, quem ganhou as eleições?

A questão é simples, a resposta é que não parece consensual. Afinal de contas, quem ganhou as eleições? Como é natural, todos os partidos reclamaram vitória, todos, excepto o PS, que foi o grande derrotado da noite, e está agora numa situação muito complicada.

No Largo do Rato ninguém ensaiou um discurso de vitória, e ainda bem, porque os resultados foram esclarecedores, e não deixaram margem para truques retóricos! O PS não foi capaz de captar os votos da esquerda, e sofreu uma derrota histórica. O sinal é claro, os portugueses querem um PS de centro-esquerda, e não um PS com crises de identidade.

Por falar em deriva, falemos agora da coligação. O PSD e o CDS perderam, imagine-se, cerca de 750 mil votos. Passaram de uma maioria absoluta (50,4%) para uma maioria relativa (38,5%), perdendo grande parte da capacidade governativa. Desvarios como aqueles a que assistimos nos últimos quatro anos deixam agora de ser possíveis, pelo menos sem o aval de parte da oposição. Na televisão, Paulo Portas e Nuno Melo exibiram sorrisos amarelos, e têm razões para isso: o CDS tem agora menos deputados do que o Bloco de Esquerda, e teve resultados muito negativos nas regiões onde concorreu sozinho (3,9% nos Açores e 6% na Madeira).

Oposição forte e severa é o que a coligação pode esperar do Bloco de Esquerda. Catarina Martins foi a grande vencedora destas eleições, conseguindo um resultado histórico, tanto a nível de votos como de deputados. O BE dobrou o número de votos e viu premiada uma campanha de grande nível, onde a sua porta-voz desmascarou as políticas do governo e, nos poucos debates que se fizeram, deixou engasgados os seus responsáveis.

Fotografia de Daniel Rocha, em Público.pt

Sem novidade, a CDU manteve-se intacta, e contribuiu para a suposta maioria de esquerda que o parlamento aparenta ter. Novidade foi a eleição de um deputado por parte do PAN (Pessoas-Animais-Natureza) que conseguiu, finalmente, e após muitos "quases", colocar um representante na Assembleia da República.

Independentemente das leituras que possam ser feitas, há duas que me parecem claras: 
1. A maior parte dos eleitores demonstrou que a política seguida por este governo não serve os interesses do país. Desta forma, é urgente mudar, sob pena de os portugueses não serem tão benevolentes com a coligação numa próxima oportunidade.
2. Um PS fraco, sem identidade, permite que a direita governe, pelo que urgem mudanças significativas que devolvam ao Partido Socialista a credibilidade (à esquerda) que parece ter perdido.

Termino com uma questão: poderá o Bloco de Esquerda ganhar consistência e assumir-se como alternativa?