sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Os falsos independentes e o eterno chico-espertismo lusitano.

Está a terminar mais uma campanha eleitoral, e com ela, claro, findam as polémicas, as intrigas, o oportunismo e a hipocrisia que tão bem caracteriza a politica nacional, ou, se quisermos (porque a politica não é mais do que o reflexo da sociedade), que tão bem caracteriza o povo português.
 
Nestas autárquicas, que atingem o seu clímax no domingo, assistiu-se a uma autêntica proliferação de candidaturas independentes, motivadas, algumas delas, pela perceção dos candidatos de que conseguem fazer melhor pela sua terra, e, quase todas, pela oportunidade de capitalizar o descontentamento e a desilusão da sociedade para com a classe política.
 
Se por um lado existem candidatos que são verdadeiros independentes, porque sempre o foram, e preservam no seu espirito as virtudes e os defeitos provenientes de uma luta politica sem o apoio, a ajuda ou a regulação de uma força partidária, também há aqueles, a grande maioria, que apenas avançaram de forma isolada porque foram preteridos ou expulsos pelo partido, investindo de forma clandestina, mas com a mesma máquina partidária, os mesmos vícios e as mesmas forças ocultas na sua sombra.
 
Sob pena de não sermos tomados por lorpas, é importante distinguir as verdadeiras candidaturas independentes das falsas, aquelas que não têm o símbolo do partido, mas que foram montadas sobre os mesmos alicerces, e com essas é preciso ter ainda mais cuidado, porque não se pode esperar que aqueles que traíram o partido sejam depois leais ao povo que os elegeu.
 
Mas não são só os falsos independentes que se julgam mais espertos do que os outros. Andam por aí candidaturas, que sendo partidárias, tentam passar a ideia de que são meros movimentos cívicos, nascidos e criados do voluntarismo. Esta tentativa de iludir as pessoas, além de mau marketing politico, é a confirmação de uma nova tendência: até aqui os políticos ainda esperavam por uma vitória nas eleições para revelar aos eleitores que os estavam a enganar, agora nem isso.
 
Sim, essas candidaturas podem afirmar que são constituídas por muitos independentes, mas a questão não é essa, até porque isso, todas são. A diferença das candidaturas independentes são a sua autonomia de decisão e a liberdade dos seus ideais, que nunca serão possíveis quando existe um partido na jogada. Saliento que não estou a dizer que uma candidatura independente é melhor do que uma candidatura partidária, ou vice-versa, o que está errado, é o candidato de um partido tentar passar por independente, ou um candidato independente tentar passar por um de um partido.
 
De repente desapareceram os cartazes cor-de-laranja, os emblemas dos partidos foram relegados para um canto (quando aparecem), e as candidaturas passaram a ter nomes de movimentos pomposos, como se os próprios militantes estivessem envergonhados com o que suportam e apoiam. É uma espécie de contrassenso, estas pessoas querem que os partidos as apoiem, mas não querem ser apoiadas por partidos. Na tentativa de conquistar os insatisfeitos, acabam por passar uma imagem pouco séria e leal, acabando, possivelmente, por afastar aqueles que, à partida, poderiam rever-se na candidatura. É o chico-espertismo lusitano, em todo o seu esplendor.