quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Hipocrisia Institucional.

Por destempero emocional, ou hipocrisia intelectual, o vice-presidente do PSD, Marco António Costa, veio a público acusar o FMI de hipocrisia institucional, por estar, ao mesmo tempo, a fazer uma coisa e a dizer outra. Dois anos depois, o partido que apoia o Governo parece finalmente ter acordado de um longo e profundo sono, e está agora disposto a aceitar a verdade. Sim, a austeridade falhou, o neoliberalismo foi contra essa dura e incómoda parede que é a realidade e, lentamente, os economistas dos números vão sendo obrigados a pensar um pouco nas pessoas, não porque tenham percebido o que é a economia ou admitido o grande erro que cometeram, mas porque este cheiro nauseabundo a pobreza, que vai pairando sobre nós, começa a entranhar-se nos fatos e nas gravatas, o que, de certa forma, acaba por incomodar.
 
O mais estranho é que o PSD e o CDS sempre estiveram com a Troika, prometeram, inclusive, ir além da Troika no que à austeridade diz respeito, e agora, porque se aproximam eleições, ou simplesmente porque o desnorte é tanto que já não sabem o que dizem (muito menos o que fazem), vêm aldrabar as pessoas, dizendo que, afinal, eles até já sabiam que este não era o caminho, simplesmente foram obrigados a segui-lo por inflexibilidade dos forasteiros. Querendo ir para o Porto, a Troika virou em Ponte de Lima em direção a Valença, e o PSD e o CDS, os dois sentadinhos no banco da frente, um ao colo do outro, sabendo do engano, nada disseram. Por satisfação ideológica, cobardia institucional ou incompetência crónica, deixaram a Troika fazer o seu caminho, e só quando chegaram a Valença se lembraram de gritar: ALTO, QUE VAIS ENGANADO! Valha-nos, pelo menos, o pragmatismo de Vítor Gaspar, que saindo desta viagem a meio, não chegou a ver os Clérigos, como era seu objetivo, mas também não tomou o Castelo de Valença pela Serra do Pilar, conservando, ainda assim, algum do seu caracter político.
 
Claro que não faz sentido o economista chefe do FMI elaborar um relatório a criticar a austeridade, e depois os técnicos aplicarem-na como se não houvesse amanhã, mas o que realmente aborrece o PSD (e o CDS) é que, sem o apoio da Troika, deixa de haver uma desculpa para se desmantelar tudo o que é público. Se o Governo fosse contra esta austeridade, há muito que tinha colocado um travão no experimentalismo de que estamos a ser alvo. Mas não, este Governo apoiou esta politica, aceitou-a como sua e colocou Portugal mais pobre e desigual, e por isso, falar de hipocrisia institucional não passa de hipocrisia politica.
 
Além disso, é claro que ver o FMI admitir que se enganou é motivo de embaraço, diria mesmo vergonha, para os partidos que estão no poder, e que sempre fizeram da austeridade uma bandeira. O Governo, que está perto do que se está a passar, não percebe que tudo ficou pior desde que entrou em funções, e o FMI, que vem cá esporadicamente, é o primeiro a admitir que as coisas não estão a resultar. Ridículo!