segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A doce tentação do tacho

Foi o tema mais falado da semana. Impulsionada pela “surpreendente” nomeação de Eduardo Catroga para a EDP, a de Braga de Macedo para chefe da diplomacia económica (o atencioso pai que ajudava as exposições da filha artista plástica), e a de Manuel Frexes e Álvaro Castello-Branco para a Águas de Portugal (autarcas do PSD e CDS, respetivamente, sendo curioso saber que a autarquia a que o primeiro preside tem um processo litigioso com essa empresa por dívidas), e pelo anúncio das 1193 nomeações \ reconduções feitas por este governo, a Comunicação Social voltou a abordar em força o tema dos “tachos” e “jobs for the boys”.

É tentação á qual nenhum partido ligado ao poder parece conseguir resistir, pois todos os novos Governos o têm feito, variando apenas a forma como o fazem.
Podia este Governo fazer o mesmo sem dar cavaco a ninguém, mas não. Para piorar (ainda) mais a sua imagem de Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho anunciou em campanha que iria combater ferozmente o clientelismo partidário, com os brilhantes resultados que estão a vir a público. Mais uma mentira pegada que nem uma conferência de imprensa em tom muito zangado a defender a competência de Catroga consegue apagar. Até porque há quem não ande a dormir e saiba da “competência” mostrada por esse senhor no Governo de Cavaco Silva (mais um do círculo de amigos desta excelsa personagem).

Conseguiu ainda na mesma conferência de imprensa usar como desculpa que “não é nenhum crime ser militante de um partido”. Pois não, mas para quem queria tanto ser implacável na luta contra o clientelismo, convenhamos que nomear APENAS militantes de PSD e CDS para os mais diversos cargos não ajuda muito a ser visto como alguém de palavra.
Mas, como refiro acima, este não é um problema de partido A, B ou C. É um verdadeiro cancro na classe política, com metástases tão extensas que não parece haver solução para este mal. Está enraizado na cultura partidária a cada mudança de partido no Governo (alguém está esquecido destas fantásticas declarações de uma dirigente do CDS, encorajando a corrida aos tachos dos seus militantes? Demitiu-se depois, na sequência de suspeitas de burla. Pois…).

Por este motivo, e apesar de como responsável do Governo ter que dar a cara e responder por vergonhas como esta, acho que este problema ultrapassa mesmo a esfera de qualquer atuação que o Primeiro-ministro possa tentar levar a cabo. As pressões internas para ocupar lugares dentro dos organismos públicos são tão grandes, os lobbys são de tal maneira fortes, que me parece que a cada 4 anos de legislatura estaremos a reclamar da mesma coisa.
Soluções para esta doença, de preferência rápidas, procuram-se. Desesperadamente!

 Alimenta-se do clientelismo
E quando as conversas lhe começam a cheirar mal
Resolve a questão
Puxa o autoclismo
Há muita cara podre em Portugal
E que lhe dá mais um bacalhau no Natal
Em terra de cegos, quem tem olho é Rei
Quem é esse Ernesto? Tu sabes bem, eu também!
Peste & Sida – Ernesto Desonesto