Numa sociedade dita normal e democrática, é normal que quando se atravessam tempos difíceis esta proteste. A larga maioria não fez nada para que tudo isto esteja a acontecer, sabendo que é profundamente injusto pagar pelos desvarios de um sistema capitalista baseado em ataques especulativos cirúrgicos de agências americanas, que baixam ratings e dão cabo de países europeus que tem dívidas inferiores a alguns estados dos Estados Unidos da América (tão credível que este sistema é, não acham?). Para além disso, não tem também culpa de uma irresponsabilidade política que já dura há décadas, da qual nenhum partido escapa, ou das brincadeiras que muitos bancos andaram a fazer com o dinheiro que tanto nos custou a ganhar.
Numa situação destas, a população une-se e protesta, e as manifestações aparecem um pouco por todo o lado, recorrendo aos meios legítimos para o fazer. Os movimentos crescem, cada vez mais aderem, e a situação obriga á reflexão daqueles que estão em cima para evitar que algum desastre ocorra. Mas isto tudo, repito, falando de uma sociedade dita normal. Na situação em que estamos, cada vez é mais difícil falarmos em normalidade, pois com um aperto cada vez maior não há como evitar que os limites sejam ultrapassados e entremos numa situação de tumultos sociais frequentes, com grupos especializados na matéria a juntarem-se ao barulho.
Já se viu disto na Grécia e Espanha, brevemente na França, e sabe-se lá mais onde. Mas no meio disto tudo, o nosso país ainda ainda vai escapando. E por um lado ainda bem, pois por princípio sou contra a violência, porque esta não resolve nada, e porque a História mostra-nos que há várias formas de manifestação de protesto que tiveram resultados estrondosos sem que para isso fosse preciso recorrer á violência, com Martin Luther King e Mahatma Gandhi como seus artífices principais.
Mas por outro lado, vou olhando para o que vai vendo ser escrito um pouco por toda a Internet (principalmente espaço de comentários de jornais e Facebook), e diria que são muitos os que não estão satisfeitos, e se prepara uma revolução sangrenta, com múltiplos apelos para pegar em armas, paus, ancinhos, facas e sei lá mais o quê, e irmos todos fazer a revolução para São Bento e sairmos de lá com a cabeça de Passos Coelho \ Sócrates \ Outro qualquer na mão. E que isto só não acontece porque o povo português é manso e só gosta de levar pancada, e não sei quê não sei que mais. É a nova forma de revolucionários que começa a aparecer: Os Revolucionários da Internet.
Sempre insatisfeitos com tudo e todos, descarregam impropérios numa simples caixinha de uns quantos caracteres, e diziam que vão fazer isto e aquilo, que vão resolver as coisas á lei da bala, fazem toda uma propaganda que nós somos um país de bananas e que são eles que vão mudar a situação, e que se juntem todos que vamos arrebentar isto tudo. E que fazem a seguir? Passam das palavras aos atos? Não, desligam o computador e vão dormir, que amanhã é dia de trabalho, e se chegam um minuto atrasados o patrão já lhes vai descontar no salário e vão ouvir o dia todo, sem que tenham coragem de retorquir. Nem greve se atrevem a fazer, pois as represálias não se fariam esperar. Depois, talvez revoltados com a sua própria falta de ação, repetem as alarvidades que disseram no dia anterior, num autêntico círculo vicioso.
A Internet deu-nos uma maior facilidade de podermos expressar as nossas opiniões (como nós os 5 fazemos aqui), muitas vezes podendo dizer aquilo que não podemos dizer publicamente. E isso contribuiu de forma muito positiva para a sociedade, criando uma coluna de opinião onde todos podem participar. Mas é também uma capa sobre a qual muitos se escondem para fazerem figuras tristes como neste caso em particular. Se todos estes espécimes admiráveis de facto se juntassem, tínhamos todos muito a temer. Mas isso não acontece por uma simples razão: estas pessoas NÃO são aquilo por que se fazem passar na Internet.
Pior que haver falta de ação popular (e até considero que sim, o nosso país tem alguma falta dela, embora ache que as manifestações da Geração Á Rasca e dos Indignados mostram que alguma coisa está a mudar), é haver quem dela reclame mas dela faça parte. Todos nós podemos e devemos fazer a nossa parte no sentido de mudar de rumo, e para isso temos diversas formas. Mas pouparmo-nos a este triste espetáculo e gastar esse tempo em algo útil é já por si só uma grande ajuda.
“A revolução não passa na televisão
Está fora de cena, fora da programação
Auto- proclamaste revolucionário
mas tens mais pinta para rei da pantufa
mas tens mais pinta para rei da pantufa
O mundo a girar e tu fechado no armário
Não sais de casa”
Peste & Sida – Revolução Rock