sexta-feira, 2 de março de 2012

Hoje é dia de clássico

Hoje é dia de clássico. Dia em que se desertam ruas e povoam cafés. É o alienar de um povo, como se não houvesse metas de produtividade a cumprir. Hoje não há sound bites políticos na praça. Hoje as conversas não serão sobre Portugal em crise, de cinto apertado no último buraco e a tanga cada vez mais curta. É dia de comprar a bola, o jogo ou o record. É dia de analisar estatísticas, gráficos, tabelas, fazer contas de cabeça, prever momentos de transição e espaços entrelinhas. Já não se sente o mesmo pessimismo e há assuntos de conversa.

O português sabe que os cafés enchem para ver futebol e, por isso, ao futebol não chega tarde. Vai como quem vai ao cinema, troca pipocas e cola por finos e tremoços, faz barulho mas não gosta que ninguém faça, quer ouvir o relato e a televisão está sempre com o volume baixo. No entanto, é no estádio o espetáculo, milhares a cantar em uníssono, a lembrar um qualquer concerto de dimensões incomensuráveis. Uma peça de teatro decorre no palco relvado, sem género, os atores improvisam a cada cena.

Para hoje, ficam as orações a Jesus como a fé de parte a parte. Os goleiros vão afinando, os maestros argentinos preparam-se para dirigir, James e Rodrigo são os solistas em dúvida.