O sol espreita envergonhado, vai tocando o frio imaterial da pedra granítica ancestral, anos a embelezar aquela margem. Reflete na água gelada do rio, cegando quando se olha a nascente, do sol e do rio, invernoso dia de luz, Dezembro quase natalício.
Combina-se uma caldeirada logo abaixo, é a ribeira a falar de si e do seu peixe, ganhou popularidade agora em tempo de vacas magras. Estão harmoniosamente dispostos, alinhados com os respetivos barcos, mestres de uma navegação esquecida no tempo. No entanto, não parecem importados, riem com a corajosa boa disposição de quem enfrenta tempestades, tempestades a sério, não destas incertezas de burocratas, tecnocratas, mentirocratas, cratas de tudo e de nada.
São nortenhos de sotaque e costumes, acima de tudo, portugueses de Portugal. São-no sem noção de horas, capazes de deixar tudo para a última, criadores de quilómetros de fila quando há acidente à vista. São-no hospitaleiros, recebem como ninguém, fazem sentir em casa forasteiros, povo de tradições tão majestosas quanto as suas refeições. São-no e querem continuar a sê-lo, no país onde não escolheram nascer mas preferem continuar a viver.
É risível apelar-se à emigração, sugerir-se agências para tal, estamos num país envelhecido, a massa que vai e não volta é crítica, é a que faz falta. Chega de empurrar problemas com a barriga, é perverso agilizar assim erros de previsão. Flexibilize-se o ensino em vez do trabalho, encaminhe-se e facilite-se a formação nas lacunas do mercado, tudo reestruturações com visão de longo prazo.
De uma vez por todas controle-se o ensino superior, percebe-se o nicho de mercado rentável, fluorescente como cogumelos. Não tem de se esperar por qualquer equilíbrio entre oferta e procura, até porque a inflação académica é crescente, tem de ser regulado a montante. Não podem ser permitidos os números vertiginosos, enfermagem é um exemplo, dezenas e dezenas de escolas, milhares de vagas a criar desempregados. Devem ser pesados na balança estudantes finalistas e postos de trabalho, não escrupulosamente, mas estimando valores que asseguram custos de trabalho dignos e justos. Não deixar chegar ao equilíbrio vigente, viciado pelo acaso bem lembrado. Enfermagem e docência são profissões estruturais, estruturante para o país também. No entanto, não cresce lado a lado com a economia, se tanto, depende da demografia, penosa a nossa. A capacidade de absorvência é limitada, são lógicas entendíveis e prospeções necessárias.
Chega o crepúsculo no poente, cor afogueada estendida até à foz, pontes eiffeis deitadas sobre o rio, palácios de fidalgos da Casa Real, anacronismos de um presente esquecido de onde vem.