Não acho que seja com greves que se resolva alguma coisa mas defendo plenamente o direito de as fazer e tenho pena que o sentimento não seja o mesmo entre todos os afectados.
Existe quem queira participar, quem não queira e quem queira mas não possa. Há ainda aqueles que participam, não na greve, mas num dia de férias. O objectivo de um protesto deste genero passa sempre e muito bem por tentar obter algum beneficio ou evitar a perda de outro, infelizmente há cada vez mais grevistas de domingo que encaram estes dias como uma desculpa para faltar ao trabalho. A minha convicção é que quem toma a decisão de fazer greve deve participar e estar em plena sintonia com a mesma. Faltar ao trabalho para ficar em casa é uma falta de respeito por todos aqueles que nos deram esta ferramenta e esses sim sabiam o verdadeiro significado de luta.
Da ultima vez que fui confirmar, a liberdade ainda era um dos princípios do direito à greve. E se não estou errado e o conceito se mantém peço a algum membro dos piquetes de greve que me explique qual é a sua função e quais as suas ideias de suporte. Por definição a função de um piquete de greve é sensibilizar os colegas de trabalho não aderentes à greve sobre os motivos que os levam a fazer a mesma. No entanto não foi isso que aconteceu em vários locais do País: faz algum sentido tentar forçar vontades a quem não as partilha? Faz algum sentido bloquear entradas de empresas, estradas ou linhas de comboio e impedir de trabalhar quem o quer fazer? Chega a ser irónico proclamar uma luta contra aquilo que acabam por fazer aos outros.
Nunca fui a favor de centrais sindicais e em algumas situações até mesmo de alguns sindicatos apesar de concordar completamente com aquilo que lhes é subjacente. Infelizmente entre a teoria e a prática vai uma distância considerável principalmente no seu papel não-politico já que na sua intervenção socioeconómica, enfim, parecem fazer o que podem, o que as negociações deixam e o que o governo permite. No restante que passa em suma por defender o trabalhador, seja ao garantir um salário mais justo e digno ou a segurança do seu emprego não estão a fazer os melhores dos trabalhos quando a única resposta para qualquer problema nessa área é a greve. E pelos vistos essa não parece ser a maior preocupação das duas unidades sindicais que deram uma conferência de imprensa ontem ao final da tarde onde durante mais de uma hora apenas se preocuparam em vangloriar com o numero de grevistas e em refutar os números apresentados pelo Estado. Isto não é uma luta para ver quem cede primeiro ou para ver quem precisa mais de quem, é uma luta pelas pessoas certo? Gostava de ver outros tipos de conclusões ao final do dia que não passasse por números de aderentes como se do total de sócios de um clube de futebol se tratasse.
Vou sempre dar mais valor a um grupo de pessoas que se resolvam juntar pelos seus direitos sem estarem afiliadas a qualquer organização. Pelo menos a mim soa-me sempre a algo mais puro e a linha de sucesso/insucesso está claramente traçada ao fim do dia.
Enfim, é muito nobre querer sempre mais e melhor para nós e para os nossos mas não precisamos de ir sempre pelo caminho mais fácil. Não é aos saltos que se sobe uma montanha.